Tempo e espaço para a brincadeira acontecer

Ah, esse tempo…

“Vamos, corre! Anda! Tem que fazer isso! Vamos, menino, tem aula de natação! Aula de inglês, de computação e chegar em casa tomar banho e: cama! Vamos ! Vamos! Anda! Vamos, vamos, vamos, estamos atrasados!”

Ai, cansei… Cansamos… Imagina os pequenos? Cadê o gosto de viver?

Nossa conversa aqui é sempre um pensar juntos e buscar caminhos. Não estamos aqui para ficar em uma postura saudosista de dizer: “poxa, antigamente era tudo melhor” ou “hoje em dia tá tudo muito difícil…”; “As pessoas não se olham mais, não se falam mais, é tudo whatsapp.”

Não vamos lamuriar, não! Olha só: estamos aqui podendo nos comunicar! Viva a tecnologia…

Mas, vamos dar um passo atrás e refletir e nos perguntar: “para onde estamos indo com tanta pressa? Para que mesmo estamos nesta tal da correria? Aprender inglês, natação, computação, esgrima ou ballet com 3 anos de idade, para que mesmo? Ah… Tem o vestibular… Ah sim… Meus filhos precisam se preparar para o mercado de trabalho… Sim … “Quantos anos tem seu filho?”; “Ah… 3 anos…”
Certo… então … 3 aninhos. Preciosa infância! Einstein tem uma frase genial que diz “ Se você quer que seu filho seja brilhante, conte a ele contos de fadas. Se você quer que seu filho seja mais brilhante conte a ele mais contos de fadas.” Talvez depois dessa podemos acalmar nosso coração e rever nossas rotas… Precisamos de muito pouco para nos desenvolver… Muito pouco que é tanto. Precisamos de tempo e espaço, de paciência e muito, mas muito carinho. Quem nunca viu um bebê de 1 ano, 2 anos no cadeirão brincando de jogar a colher no chão e dar muita risada? Ele está ali encantado com a colher caindo, ali a vida acontece em plenitude para ele. Uma vez, duas vezes, três, quatro, infinitas vezes e ele ri. É isso… Só isso? Isso é tudo! Brincar com todas as panelas e colheres na cozinha enquanto um adulto cozinha. Bater com as colheres na panela, fazer comidinha e dar para a mãe ou pai comerem. Tem melhor brinquedo? Tem brinquedo mais gostoso que este? Aí chega o tio com um super brinquedo caríssimo, ou um super eletrônico: que máximo! A criança brinca uma, duas vezes e deixa lá… Esquece… Foi dado com todo amor do mundo, mas o brinquedo não faz sentido… O brinquedo brinca sozinho… Não tem a graça das panelas e colheres de verdade e das inúmeras comidinhas com inúmeros cheiros diferentes da imaginação! É tudo de verdade, a panela é forte, a colher é consistente e a imaginação é de verdade! Brincar é experimentar este mundo de verdade. Observem a concentração de uma criança quando ela está envolvida na brincadeira com as panelas, colheres, fazendo comidinha… Ali está um ser humano em completa compenetração, experimentando a vida. Plenamente envolvido inteiro!

Aula de natação pode ser importante, mas… Brincar de golfinho na piscina, mergulhar e subir… Experimentar a água no seu tempo, boiar fazer bolinhas… Este brincar na água está em outro lugar que a aula de natação. Dançar na sala de casa, rolar, mexer o corpo… Experimentar os sons e movimentos está em outro lugar que aula de ballet… Não quero aqui novamente tirar o valor da aula de natação e de ballet, mas não é a mesma coisa que brincar com o corpo e brincar na água. Isso é super importante de distinguirmos, se não a gente vai atropelando as crianças sem saber que elas precisam deste tempo e espaço para se descobrirem em brincadeiras no mundo. Precisamos olhar e enxergar que a brincadeira, o brincar, não é algo “a mais”, mas, sim, algo essencial e vital para o desenvolvimento e formação de um ser humano pleno e feliz. E que brincar não é algo de fim de semana e de vez em quando, é algo que tem que ser zelado e protegido por nós adultos como algo vital e urgente.

Do que seu filho brincou hoje?